segunda-feira, 10 de março de 2014

Gandalf, o Cinzento.

óleo sobre tela. 70cm X 80cm


Sempre me agradou a idéia de ilustrar alguns livros e a obra de Tolkien parecia ser sempre, um convite irresistível. Um mundo primal e fantástico, que a mim, trazia sempre a sensação de que a vida deveria ter um ritmo mais lento e também, um pensamento constante, que surgia como uma estranha lembrança do cheiro de madeira, fogueiras, queijos e defumados... 

Devaneios a parte, são livros que filosofam em meio a uma narrativa magnética sobre a amizade, o amor, a compaixão, a busca pelo poder temporal, a corrupção do coração e o poder ilimitado e libertador das coisas simples.

Do Senhor dos anéis, Gandalf, o Cinzento, foi a primeira tentativa em óleo. Me parece ser a figura que melhor traduz a atmosfera e a sabedoria do livro. O desafio então era me aproximar da imagem criada por Tolkien, sem repetir as belas concepções de Alan Lee, de John Howe e ainda de M.W Kaluta, já tão expostas.

Um pouco do processo.


A idéia inicial, era fazer uma pintura alla prima, ou seja, quando a pintura é feita diretamente sem esboços, sem camadas e sem retoques e que pode ser concluída em um único dia de trabalho. Embora existam formas de retardar a secagem da pintura, eu não tinha o tempo necessário, que seriam aproximadamente 14 a 16 horas livres para concluí-la. Dessa forma, decidi então pintar em camadas, mesmo não seguindo um desenho prévio. Foi a escolha mais segura para conseguir o efeito que eu desejava, no tempo que me era possível.

A pintura em camadas exige um procedimento particular. A primeira regra da pintura neste caso é conhecida como "gordo sobre magro". Ou seja, a camada posterior é sempre mais oleosa que a camada anterior. A não observação dessa regra, depois de pouco tempo, resulta em uma pintura cheia de rachaduras e enrugamentos.

Na primeira camada utilizei uma tinta mais diluída, usando a terebentina pura, aplicando assim a diluição na própria paleta, usando o pincel embebido sobre a tinta. Isso produziria uma camada pouco oleosa e de cores mais primárias que dariam forma a um esboço mais espontâneo.


Uma vez secando a primeira camada, dois dias depois, dei início a segunda camada. Para a segunda e terceira camada, utilizei dois diferentes médiuns.

No médium para a segunda camada: 50% de óleo de linhaça e 50% de Essência de Terebentina.

No médium para a terceira camada: Duas (02|) partes de Óleo de Linhaça para uma (01) parte de Essência de Terebentina.

Para quem incomodar o cheiro da Terebentina, pode-se substituir pelo Ecosolv, que tem um odor bem mais suave e que também tem a mesma função. Pode-se encontrar na marca Acrilex e na Corfix, é conhecido como Diluente Eco.



Ao iniciar a segunda camada, é aconselhável passar com um pincel chato, limpo e macio, com um pouco do médium sobre a pintura anterior, espalhando bem na área que irá a receber a próxima tinta. Não é necessário que o pincel esteja muito embebido, um pouco é o suficiente. Isso fará com que a tinta deslize com suavidade pela superfície.

Dei início então a segunda camada, dando atenção a pele, usando tons azuis e róseos. Imaginei o rosto de Gandalf, mesmo com a idade que acumulava eras, com uma pele vívida e luminosa. A barba e alguma coisa do chapéu e vestimenta foram também ganhando mais cor e textura.



Embora luminosa, era necessário também acrescentar as rugas e lhe dar de fato, uma aparência de mais idade. Também dei mais definição ao rosto, aos olhos em especial.


A pintura avançava então em regiões diferentes da tela e em tempos diferentes. Trabalhava então na segunda e terceira camada paralelamente. Mas, se desejado, pode se trabalhar camada por camada, esperando a camada anterior completamente pintada secar para iniciar a seguinte. Isso provavelmente acontece quando se tem, anterior a pintura, um desenho prévio e preciso do tema.


As outras áreas da tela, foram trabalhados depois de concluído o rosto e achei mais interessante o esboço do cabelo que a sua versão final. De qualquer forma, decidi deixá-lo como estava.

Para os retoques finais, usei a tinta diluída em óleo de linhaça puro. No caso desta pintura, eram área bem pequenas, como detalhes na barba, no cachimbo e acertos no chapéu.

 

O envernizamento. 


O verniz serve para proteger a pintura a óleo da poluição, da luz ultravioleta e de algum processo abrasivo. Essa película protetora, faz também vir à tona toda a intensidade da cor, dando também profundidade aos tons escuros, resultando no caso de uma pintura em camadas e lisa, efeitos muito belos.

Para envernizá-lo, apliquei com um pincel limpo e macio, de preferência chato, uma mistura de uma (01) parte de Verniz de Dammar dissolvido em uma (01) parte de Essência de terebentina. 

Aconselha-se esperar cerca de 6 meses para aplicar o verniz final.


Um comentário:

  1. A obra do Tolkien é maravilhosa, sou fã. Os filmes vieram somar. O seu Gandalf transmite o encanto e força do personagem. Parabéns. Linda obra.

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